Estudos apontam que os transtornos depressivos estão entre os mais prevalentes na psiquiatria e seu risco de ocorrência durante vida é de 8%. Alguns indivíduos apresentam um único episódio, mas um número maior apresenta episódios depressivos crônicos e/ou recorrentes. Em geral, a depressão é uma resposta a uma experiência traumática precipitadora na vida do paciente, embora, também reflita uma predisposição genética ou constitucional. A perda de um objeto de amor é o precipitador mais comum da depressão. Já o suicídio é o desdobramento que requer maior cuidado e atenção, pois, é uma complicação da depressão e a maior causa de mortalidade entre os pacientes psiquiátricos. (MACKINNON et al., 2008)
Quanto ao Transtorno Depressivo Maior (TDM), estamos falando de um transtorno de humor grave, silencioso, associado a morbidade e mortalidade significativas, notavelmente, semelhantes no mundo todo e que atinge indivíduos de todas as classes sociais, religiões, sexos, idades e culturas, trazendo grandes impactos e prejuízos, tanto financeiros, como na qualidade de vida dos indivíduos afetados direta e indiretamente. Projeta-se que nos próximos anos venha a se tornar o segundo maior contribuinte para a carga global de doença, atrás apenas de doença cardíaca (MURRAY e LOPEZ, 1997a,b). Estudos evidenciam que este transtorno se manifesta em cerca de 5% a 10% da população adulta durante um período de um ano, tendo as mulheres, risco mais alto que os homens, uma proporção de, aproximadamente 2:1 (REGIER et al., 1993; KESSLER et al., 1994). Outros estudos também evidenciam que após o seu primeiro episódio, 50% a 85% dos pacientes, eventualmente, terão mais um episódio (MUELLER et al., 1999).
Segundo Birmaher et al. (1998), ainda sobre a questão de gênero, as meninas adolescentes parecem ter mais fatores de risco para depressão do que os meninos. Estudos em adultos e jovens sugerem que cada geração sucessiva desde 1940 está em maior risco de desenvolver um transtorno depressivo e estão sendo reconhecidos em idades sucessivamente mais jovens. Em indivíduos com o TDM é comum casos com duas ou mais comorbidades de transtornos psiquiátricos. O início dos transtornos por uso de substâncias por exemplo, geralmente são precedidos pelo TDM, e o tratamento da depressão pode impedir o seu desenvolvimento. Análogo ao aumento do TDM, Birmaher et al. (1998, p. 1235), observam que “a taxa de suicídio de adolescentes quadruplicou desde 1950 (2,5 para 11,2 por 100.000) e atualmente representa 12% da mortalidade total para essa faixa etária.”
Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), e episódio depressivo na Classificação Internacional de Doenças e problemas relacionados à saúde (CID-10), a característica essencial de um episódio depressivo maior é um período, de pelo menos, duas semanas, no qual haverá humor depressivo ou perda de interesse ou prazer em quase todas as atividades. O indivíduo também deve experimentar, pelo menos, quatro sintomas adicionais, que incluem: mudanças no apetite ou peso, no sono e na atividade psicomotora; diminuição de energia; sentimentos de desvalia ou culpa; dificuldade para pensar, concentrar-se ou tomar decisões; pensamentos recorrentes de morte ou ideação suicida, planos ou tentativas de suicídio. Os sintomas deverão persistir na maior parte do dia ou em quase todos os dias, por pelo menos, duas semanas consecutivas. O episódio deve ser acompanhado de sofrimentos ou prejuízos clinicamente significativos no funcionamento social, profissional, ou em outras áreas importantes da vida. Um episódio típico de depressão não tratado tem uma duração média de seis meses. O TDM caracteriza-se por episódios depressivos maiores únicos ou recorrentes, embora seja recorrente na maioria dos casos. No caso de episódios recorrentes, se os subsequentes forem sempre depressivos, são denominados de Transtorno Depressivo Unipolar, já se intercalados com episódios de mania ou hipomania, são denominados de Transtorno Bipolar do Humor (DSM-5), ou Transtorno Afetivo Bipolar (CID-10).
A redução da autoconfiança e da autoestima é um sintoma significativo da depressão e as implicações na qualidade de vida dos indivíduos acometidos deste fenômeno são bastante comprometedoras e significativas, já que os principais sintomas manifestos nos casos mais graves, são: desânimo, pessimismo, perda da esperança, perda do interesse pela vida e pelo mundo externo, indiferença e perda do entusiasmo pelas coisas que antes eram suas maiores fontes de prazer, pouca iniciativa ou espontaneidade, sentem-se desagradáveis e indesejados, expressão de sentimentos autopunitivos, sentimento de vazio, desamparo, angústia, tensão, medo, culpa e solidão, perda de identidade, pensamentos repetitivos e ruminantes e, dificuldade de nomear as experiências. A depressão gera um aumento significativo de morbidade e de mortalidade por doenças físicas. Os sintomas físicos mais comuns incluem insônia, dificuldade para acordar pela manhã, fadiga, perda de apetite, perda da libido, dor de cabeça, dor na nuca, depressão dor lombar e outras dores. (MACKINNON et al., 2008)
Considerações
Como visto, o TDM é um transtorno silencioso, responsável por grandes desdobramentos e prejuízos tanto financeiros, como na qualidade de vida dos indivíduos e da sociedade como um todo, dada a sua natureza crônica, alta morbidade e mortalidade.
Considerando os significativos impactos e prejuízos, tanto financeiros, quanto na qualidade de vida dos indivíduos afetados, direta e indiretamente, e a perspectiva ascendente do Transtorno Depressivo Maior (TDM), compreendemos, ainda mais claramente, a importância dos profissionais da psicologia se atualizarem, ou planejarem as suas futuras especializações sobre este fenômeno e sobre as, mais bem-sucedidas, ferramentas, técnicas, métodos, relações terapêuticas e práticas clínicas, das abordagens disponíveis na atualidade, para consolidarem suas formações e para assegurarem uma maior eficácia em suas futuras intervenções clínicas.
Esperamos que todos os afetados direta ou indiretamente por este fenômeno se libertem do comportamento de esconder o sofrimento e de lutarem por conta própria. É fundamental que toda a sociedade entenda e acredite que é possível minimizar os impactos deste fenômeno e reestabelecer uma melhora significativa na qualidade de vida ao buscarem ajuda profissional qualificada e preparada. Esperamos, também, que o meio científico continue fomentando as pesquisas e os estudos sobre este importante tema, com a finalidade de minimizar, cada vez mais, os grandes impactos deste fenômeno na sociedade como um todo.
Autores: ALMEIDA NETO, Anardino Cândido de; FERREIRA, Lucas de Souza.
REFERÊNCIAS
BIRMAHER, B.; Brent, DA; Benson, RS. Summary of the practice para-meters for the assessment and treatment of children and adolescents with depressive disorders. American Academy of Child and Adolescent Psychiatry. J Am Acad Child Adolesc Psychiatry 37: 1234-1238, 1998. > Acesso em: 10 de Out. de 2022.
KESSLER, RC; McGonagle,KA; Zhao, S.; Nelson, CB.; Hughes, M.; Eshleman S.; Wittchen HU; Kendler, KS. Lifetime and 12-month prevalence of DSM-III-R psychiatric disorders in the United States. Arch Gen Psychiatry 51: 8-19, 1994.> Acesso em: 04 de Out. de 2022.
MACKINNON, Roger A.; Michels, Robert; Buckley, Peter J. A Entrevista Psiquiátrica na Prática Diária. Tradução Celeste Inthy. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
MUELLER, Timothy I.; André C.; Leon; Martin B. Keller; David A. Solomon; Jean Endicott; William Coryell; Meredith Warshaw; Jack D. Maser. Recorrência após a recuperação do transtorno depressivo maior durante 15 anos de acompanhamento observacional. Am J Psychiatry 156: 1000-1006, 1999. Disponível em <https://doi.org/10.1176/ajp.156.7.1000.> Acesso em: 04 de Out. de 2022.
MURRAY, CJL; LOPEZ, AD. Global mortality, disability, and the contribution of risk factors: Global Burden of Disease Study. Lancet 349: 1436-1342, 1997a. Acesso em: 04 de Out. de 2022.
______. Alternative projections of mortality and disability by cause 1990-2020: Global Burden of Disease Study. Lancet 349: 1498-1504, 1997b. Acesso em: 04 de Out. de 2022.
REGIER, DA.; Narrow, WE.; Rae, DS; Manderscheid, RW; Locke, BZ; Goodwin, FK. The de facto US mental and addictive disorders service system. Epidemiologic catchment area prospective 1-year prevalence rates of disorders and services. Arch Gen Psychiatry 50: 85-94, 1993. Acesso em: 04 de Out. de 2022.
WELLS, R. H. C. et al. CID–10: classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde. São Paulo: EDUSP. 2011.